A verdade sobre o Crédito do Trabalhador

Todo mundo gosta de falar de novidades que facilitam a vida do trabalhador. 

Mas quando o assunto envolve FGTS, desconto direto no salário e impacto na folha da sua empresa… 

Vale olhar com mais atenção!

Em março de 2025, o Governo Federal deu início ao chamado Crédito do Trabalhador: um programa de empréstimo consignado com garantia do FGTS e desconto direto na folha de pagamento.

Anunciado como fácil, rápido e menos burocrático, o programa ganhou destaque. 

Mas ele também levantou dúvidas, exigiu mudanças operacionais dentro das empresas e ligou o sinal de alerta em muitos setores.

Neste artigo, você vai entender:

  • como funciona o Crédito do Trabalhador;
  • quem ganha, quem assume o risco;
  • e como se preparar para lidar com seus impactos de forma segura e consciente.

Mas, na prática, o que muda? 

Quais são os efeitos esperados — e os não tão discutidos? 

Quem é impactado, e como se preparar?

Nosso objetivo aqui é mostrar o que realmente importa — sem rodeios. 

O que é o Crédito do Trabalhador?

O Crédito do Trabalhador é um modelo de empréstimo consignado vinculado ao FGTS. 

O colaborador solicita por meio da Carteira de Trabalho Digital (CTPS Digital) ou canais eletrônicos de bancos credenciados. 

Após a aprovação, a empresa é notificada oficialmente para descontar as parcelas diretamente na folha de pagamento.

O valor do crédito pode chegar a até R$ 20 mil, com prazo de pagamento de até 48 meses.

Os juros variam de acordo com a instituição financeira, e embora sejam anunciados como “reduzidos”, é importante que cada trabalhador avalie com atenção o impacto das parcelas em seu orçamento mensal.

Como os empregadores serão impactados? 

As empresas não participam diretamente da decisão do trabalhador de contratar o crédito. No entanto, são impactadas de forma significativa em diversas frentes.

Efeitos indiretos:

  • Funcionários endividados tendem a apresentar mais distrações, faltas e queda de desempenho;
  • Aumento da rotatividade e do estresse dentro das equipes;
  • Ambiente organizacional mais vulnerável e instável.

Responsabilidades adicionais:

  • Controle de repasses: O RH precisa administrar os descontos e garantir os repasses aos bancos conforme as notificações recebidas;
  • Atenção em desligamentos: A demissão de um colaborador com crédito ativo exige cuidado redobrado no acerto rescisório e comunicação com a instituição financeira;
  • Possíveis disputas judiciais: Se houver erro nos descontos ou falha na comunicação entre empresa e banco, o risco de litígio aumenta.

Mais pontos de atenção:

  • Planejamento de fluxo de caixa: Empresas podem precisar revisar prazos e valores de rescisões em casos de múltiplos descontos ativos a serem quitados;
  • Percepção sobre o papel da empresa: Mesmo sem envolvimento direto na decisão de crédito, a empresa pode ser percebida como “avalista indireta” em caso de problemas com parcelas, o que afeta sua imagem e relacionamento com o colaborador;
  • Sobrecarga no atendimento interno: Equipes de benefícios e RH podem passar a receber dúvidas operacionais sobre o crédito, mesmo quando a responsabilidade é do banco. Isso demanda alinhamento prévio de comunicação e fluxo de atendimento interno.

Como os colaboradores serão impactados?

A principal vantagem apontada pelo programa é a liberação rápida do crédito. 

No entanto, é fundamental que o trabalhador compreenda o custo total da operação e os riscos associados:

  • Desconto direto no salário: O valor das parcelas é automaticamente retirado do contracheque, o que reduz a renda líquida mensal disponível desde o mês seguinte à contratação — sem carência;
  • FGTS como garantia: Em caso de demissão ou inadimplência, o saldo do FGTS pode ser utilizado para quitar a dívida, o que limita o uso do fundo para outros fins como aquisição de imóvel ou emergências;
  • Comprometimento da proteção trabalhista: O uso do FGTS como garantia enfraquece a reserva de segurança do trabalhador em momentos críticos, como demissão sem justa causa;
  • Dificuldade de renegociação: Uma vez contratado, o crédito não pode ser pausado ou renegociado com facilidade. Os descontos seguem ocorrendo mesmo em situações financeiras adversas;
  • Ausência de orientação financeira: A contratação geralmente ocorre sem nenhuma mediação profissional ou aconselhamento, o que exige atenção redobrada ao avaliar se as parcelas cabem no orçamento.

Aqui vai um exemplo realista: um empréstimo de R$ 10.000 em 24 parcelas pode resultar em R$ 512,68 por mês. No final, o total pago pode ultrapassar R$ 12.000. Para quem ganha R$ 3.000, isso representa mais de 17% da renda mensal comprometida. 

Para o dono do negócio, cada trabalhador com salário comprometido pode representar um novo desafio silencioso…

Distração no trabalho, produtividade mais baixa, maior dependência emocional do empregador e até risco de inadimplência em outros compromissos. 

Com o tempo, isso impacta diretamente o clima organizacional e os resultados do time.

Como profissionais de RH serão impactados?

Muita atenção ao aumento de demanda e necessidade de precisão! 

O programa adiciona uma camada nova à rotina dos departamentos de recursos humanos:

  • Leitura e interpretação das notificações oficiais (ex.: DET e Emprega Brasil);
  • Gestão dos valores a descontar, prazos e atualizações;
  • Contato com colaboradores para esclarecimentos e orientações, especialmente em caso de inconsistência.

Além disso, vale considerar:

  • Falta de padronização nas notificações: As mensagens recebidas pelos canais oficiais nem sempre seguem o mesmo formato ou nível de clareza, exigindo atenção redobrada do RH;
  • Integração com sistemas internos: Muitos sistemas de folha ainda não estão preparados para processar esse tipo de desconto de forma automática, o que pode exigir ajustes em processos internos e envolvimento do time de TI;
  • Expectativa de suporte por parte do colaborador: Mesmo que a decisão de contratar o crédito seja pessoal, é comum que os trabalhadores busquem explicações diretamente com o RH, o que reforça a necessidade de alinhamento de mensagens e fluxos internos.

Um erro de cálculo ou falha de integração pode gerar confusão interna e até ações trabalhistas.

O dono da empresa também sente os reflexos: retrabalho, falhas no fechamento da folha, aumento de passivos trabalhistas e colaboradores desinformados podem comprometer a gestão como um todo. 

Monitorar esse impacto e antecipar soluções passa a ser uma responsabilidade estratégica.

Como os contadores serão impactados?

A contabilidade precisa acompanhar o lançamento correto dos valores em sistema, incluindo:

  • Natureza do desconto;
  • Classificação contábil adequada;
  • Informações corretas em relatórios fiscais e de folha.

Além disso, é importante considerar os seguintes pontos:

  • Controle de divergências: A contabilidade pode ser acionada para revisar inconsistências entre os valores informados pelo banco, os descontos aplicados pelo RH e os registros na folha;
  • Conciliação contábil e fechamento mensal: Os novos descontos exigem atenção na conciliação entre folha, sistema contábil e extratos bancários, especialmente nos fechamentos mensais;
  • Atenção ao regime tributário da empresa: Dependendo do regime (Simples, Lucro Presumido ou Real), pode haver particularidades no registro ou classificação desses descontos;
  • Protocolos padronizados para múltiplos clientes: Escritórios contábeis que atendem diversas empresas devem estabelecer fluxos claros para monitoramento e repasse, evitando inconsistências e retra

E como isso impacta o dono do negócio

A ausência de integração e consistência contábil pode gerar atrasos no fechamento, multas e inconsistências em auditorias.

O contador passa a ser uma peça-chave na prevenção de riscos fiscais e na organização da gestão financeira da empresa.

Como o departamento jurídico será impactado? 

O Jurídico deve estar atento aos seguintes pontos:

  • Responsabilidade solidária em casos de erro no repasse do desconto;
  • Possíveis litígios trabalhistas em demissões mal conduzidas com crédito ativo;
  • Revisão de políticas internas sobre apoio financeiro, comunicação e processos com o RH;
  • Consulta prévia às convenções coletivas, que podem conter cláusulas específicas relacionadas a crédito consignado;
  • Registro formal de notificações e repasses: é importante estabelecer rotinas documentadas que comprovem o recebimento de comunicados e o cumprimento de repasses para mitigar riscos de responsabilização;
  • Atualização de modelos de desligamento: espelhos de folha, recibos e cartas de demissão devem ser adaptados para indicar claramente valores vinculados a empréstimos ativos;
  • Inclusão de cláusulas em contratos e políticas internas: prever orientações sobre adesão voluntária ao crédito consignado e seus efeitos em caso de rescisão ajuda a prevenir litígios futuros.

Para o dono de empresa, isso significa o seguinte: um pequeno erro na comunicação ou na rescisão pode virar uma disputa trabalhista. 

Estar amparado por um jurídico alinhado à realidade da folha e das obrigações operacionais é o que separa um problema pontual de uma dor de cabeça judicial prolongada.

Pontos críticos que exigem atenção das lideranças

Quando o Crédito do Trabalhador entra em cena, todo o ecossistema da empresa é afetado.

Seja na operação, no jurídico, na folha ou na gestão do time.

Por isso, alguns pontos exigem atenção especial das lideranças, principalmente de quem cuida do RH, contabilidade, jurídico e processos internos:

  • Transparência nos comunicados com os colaboradores: para evitar dúvidas, ruídos ou falhas de interpretação sobre os descontos em folha;
  • Validação das informações recebidas via sistemas oficiais (DET e Emprega Brasil): garantindo que os dados estejam corretos antes de aplicar qualquer desconto;
  • Atenção à capacidade de pagamento de quem solicita o crédito: tanto para orientar colaboradores quanto para evitar problemas futuros em caso de inadimplência;
  • Alinhamento entre jurídico, RH e contabilidade: necessário para lidar com demissões, bloqueios, acertos rescisórios e eventuais disputas relacionadas ao repasse ou à validade do crédito.

O que isso tudo nos mostra?

O Crédito do Trabalhador pode ser uma alternativa para quem precisa de dinheiro com urgência, desde que usado com consciência e planejamento. 

No entanto, é preciso reconhecer os impactos indiretos e operacionais para quem contrata, emprega ou gerencia esse processo.

O programa transfere responsabilidades importantes para empresas e profissionais que estão na linha de frente da gestão de pessoas, folha e riscos legais.

RH, contabilidade e jurídico passam a ter um papel ativo na sustentação técnica e legal dessa operação.

Por isso, antes de tratar o crédito como solução imediata, é essencial que todos os envolvidos compreendam seu funcionamento completo, seus efeitos no longo prazo e suas limitações.

Se você é cliente Solutta, pode ficar tranquilo.

Nosso time já acompanha os desdobramentos do programa, monitora os canais oficiais e oferece suporte completo para que sua empresa esteja segura, atualizada e em conformidade em cada etapa.

Conte conosco para transformar incerteza em clareza!